impermeabilização do solo
in Drenagem urbana Enchentes

Os impactos causados pela excessiva impermeabilização do solo

Aquecimento global, risco de inundações, escassez de água e diminuição da biodiversidade são alguns dos principais impactos causados pela impermeabilização do solo.

Dando continuidade ao artigo anterior “As causas das Enchentes no Brasil”, hoje falaremos sobre impermeabilização do solo.

Apenas para conceitualizar, impermeabilizar o solo significa fazê-lo perder sua capacidade de absorver água. E essa impermeabilização do solo tem aumentando exponencialmente em decorrência do crescimento desordenado e sem planejamento das cidades. O que é esquecido durante este processo, é que o solo é um recurso limitado e não renovável.

Principais Funções do Solo

O solo fornece diversas funções ecossistêmicas. Entre elas, desempenha um papel fundamental na produção de alimentos e materiais renováveis, oferece habitat para a biodiversidade tanto em sua superfície quanto no subsolo, filtra e modera o fluxo de água para os aquíferos, reduz a frequência e o risco de inundações, regula microclimas em ambientes urbanos, além de desempenhar funções estéticas na paisagem.

Quando impermeabilizamos o solo, eliminamos também a maioria dessas funções, gerando um grande problema a longo prazo, já que sua formação é um processo muito lento (estamos falando de séculos para formar um só centímetro de solo).

Ocupação desenfreada gera impermeabilização do solo

Segundo a Agência Europeia do Ambiente, entre 1990 e 2006, a taxa de ocupação do solo foi de aproximadamente 1000Km²/ano, resultando em um aumento da área total urbanizada de cerca de 9% (de 176.200 para 191.200 km²). Levando em consideração que provavelmente essa taxa não diminuiu até hoje (e talvez tenha até aumentado), estima-se que em apenas 100 anos teremos uma quantidade de terras impermeabilizadas do tamanho do território da Hungria. E este é apenas um exemplo da Europa. Imagine se trouxermos estes números para a realidade brasileira.

Pois bem: segundo a ONU, em 2005 o Brasil possuía uma taxa de urbanização de 84,2%. De acordo com algumas estimativas, essa porcentagem deve chegar em 93,6% até 2050, ou seja, 237,751 milhões de pessoas morando em cidades até a metade deste século. Aliado a isso, nosso país perdeu 7,5% de suas florestas entre 2000 e 2016. E segundo a rede MapBiomas, nos últimos 34 anos, as áreas com infraestrutura urbana cresceram 86% em todo estado de São Paulo. Já dá para imaginar o resto, não?

Principais impactos da impermeabilização do solo

Conforme falamos acima, a impermeabilização proporciona um forte impacto no solo, acabando com quase todas as suas funções. Devido ao rápido processo de urbanização, é recorrente a remoção do solo superficial para instalar fundações das construções que ali irão se erguer. Essa prática isola o solo da atmosfera, impedindo a infiltração das águas pluviais e trocas de gases entre o solo e o ar. E assim começam os problemas:

1) Grande pressão nos recursos hídricos

A impermeabilização do solo reduz a quantidade de água da chuva que pode ser absorvida e, em casos extremos, pode impedir totalmente a absorção. Isso aumenta significativamente o tempo que a água leva para chegar aos rios, diminuindo seus volumes máximos e aumentando o risco de inundações. Quanto maior a capacidade de infiltração de água no solo, menor a dependência de bacias artificiais para armazenamento durante as tempestades.

2) Biodiversidade terrestre e subterrânea ameaçada

Cientistas estimam que um quarto das espécies do planeta vive nos solos. E muitos microrganismos possuem papeis fundamentais na decomposição da matéria
orgânica, reciclagem de nutrientes e captura e armazenamento de carbono. Sem isso, é impossível assegurar um habitat propício para o desenvolvimento da biodiversidade subterrânea.

Já para as espécies terrestres, a impermeabilização do solo em forma de estradas, por exemplo, interrompe vias de migração, afeta habitats nativos, diminui populações de animais selvagens, influencia negativamente no clima local, aumenta a poluição e ruído no ambiente, entre tantos outros problemas.

3) Infertilidade dos solos

Desde o início da humanidade, os povoados se desenvolveram, principalmente, junto aos solos mais férteis, já que tiravam sua subsistência dessas áreas. E quanto mais essas aglomerações urbanas aumentaram, mais esses mesmos solos férteis foram afetados, tornando-se inférteis.

Segundo o Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, entre 1990 e 2006, dezenove Estados-membros “perderam uma capacidade potencial de produção agrícola equivalente a um total de 6,1 milhões de toneladas de trigo.” Agora faça um exercício e transponha essa mesma perda para o mundo inteiro…

4) Aumento da Temperatura nas Cidades

A diminuição ou redução total da vegetação nas áreas urbanas (resultado da impermeabilização dos solos e aumento da absorção de energia solar, devido às grandes superfícies asfaltadas e/ou concretadas) e o aumento do calor gerado por sistemas de ar condicionado e pelo tráfego, formam as chamadas “ilhas térmicas urbanas”, que geram temperaturas excessivas e graves problemas para a saúde da população.

5) Deterioração da Qualidade do Ar

A vegetação, principalmente grandes árvores, desempenha um papel importante na absorção, filtragem e circulação do ar, diminuindo assim as concentrações locais de gases poluentes. Sem ela, a qualidade do ar nos centros urbanos piora muito.

O que podemos fazer em relação à impermeabilização do solo?

Além desses impactos, existem inúmeros outros. Por isso, a necessidade de expandir os centros urbanos gerada pelo crescimento da população e da demanda por mais habitações, instalações industriais/comerciais, e infraestruturas de transporte (principais fatores para a impermeabilização dos solos), deve sempre conciliar o crescimento das atividades econômicas com todas as questões ambientais necessárias. Assim, minimizarmos os problemas atuais e garantimos um futuro melhor.

No próximo artigo, falaremos sobre as melhores práticas para evitar a impermeabilização do solo. Até lá!