A saúde brasileira e o saneamento básico nos últimos 50 anos
in Saneamento Básico

A saúde brasileira e o saneamento básico nos últimos 50 anos

A premiada reportagem “Do que morre o Brasil”, de 1968, traçou um panorama sobre os cruéis impactos da falta de saneamento no país.

Quem hoje lê a reportagem “Do que morre o Brasil”, depois de meio século de sua publicação, dificilmente vai se esquivar da impressão de que, apesar de tudo, muita coisa melhorou no país em saúde e saneamento.

José Hamilton Ribeiro, autor da matéria, escreveu à época: “Quando nasce, o brasileiro só pode esperar viver pouco mais de 50 anos. Se for nordestino, a coisa muda para pior: quase não chega aos 40. A idade média do brasileiro é de 54 anos – a mesma da Suécia, no século XIX”.

Dados dessa premiada reportagem apontavam:

  • 40% das mortes no país eram causadas por seis doenças infecciosas (diarreia, gripe, pneumonia, tuberculose, sarampo e tétano).
  • No país, a cada mil crianças nascidas, 112 morriam.
  • Em Fortaleza, de cada mil crianças nascidas vivas, apenas 153 completavam o primeiro ano.
  • A cada 42 segundos, uma criança morria no país.
  • 50% dos brasileiros morriam antes de completar 19 anos.
  • Apenas 4,3% alcançavam os 60 anos.
  • Entre 1950 e 1959, 1 milhão de crianças com menos de um ano morreram de diarreia infecciosa.
  • 8 milhões sofriam de esquistossomose.
  • 5 milhões de mal de Chagas.
  • Meio milhão de malária e de tuberculose.
  • Com 80 milhões de habitantes, apenas 5 milhões não carregavam no organismo uma ou mais espécies de parasitas.

 

“Por que morre o brasileiro?”, pergunta então a reportagem que responde: “Falta de saneamento básico, a grande causa”.

O ministro da saúde à época, Dr. Leonel Miranda, afirmou: “A situação sanitária do país está merecendo uma declaração de guerra”.

Desde então, muitas das batalhas parecem ter sido vencidas. Em dezembro do ano passado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou dados que mostram, sem dúvidas, que muitos avanços foram feitos no país:

  • de 1940 a 2016, a expectativa de vida dos brasileiros ao nascer aumentou em mais de 30 anos: hoje é de 75,8 anos.
  • Santa Catarina é o estado que apresenta a maior esperança de vida: 79,1 anos.
  • Em seguida vem Espírito Santo (78,2 anos), Distrito Federal (78,1 anos), e São Paulo (78,1 anos), o Rio Grande do Sul (77,8 anos), Minas Gerais (77,2 anos), Paraná (77,1 anos), e Rio de Janeiro (76,2) anos.
  • As menores taxas de expectativas de vida, no entanto, ainda estão no nordeste: Maranhão, com 70,6 anos e Piauí, com 71,1 anos.

 

Outras estatísticas importantes da falta de saneamento em relação à saúde.

No entanto, apesar das batalhas já vencidas, o país ainda está longe de alcançar a universalização do saneamento básico, cuja falta ainda cobra seu preço. O Instituto Trata Brasil apresenta as seguintes estatísticas:

  • “Em 2013, segundo o Ministério da Saúde (DATASUS), foram notificadas mais de 340 mil internações por infecções gastrointestinais no país.”
  • “O custo de uma internação por infecção gastrointestinal no Sistema Único de Saúde (SUS) foi de cerca de R$ 355,71 por paciente na média nacional.”
  • “Se 100% da população tivesse acesso à coleta de esgoto haveria uma redução, em termos absolutos, de 74,6 mil internações; 56% dessa redução ocorreria no Nordeste.”
  • “Em 2013, o país teve mais de 14 milhões de casos de afastamento por diarreia ou vômito.”
  • “A cada afastamento as pessoas ficaram longe de suas atividades por 3,32 dias, em média. Isso significa que essas doenças causaram 49,8 milhões de dias de afastamento ao longo de um ano.”
  • “Em 2015, o custo com horas não trabalhadas alcançou R$ 872 milhões.”
  • “Em 2013, tivemos 391 mil internações por conta de doenças gastrointestinais infecciosas.”
  • Em 2016, em relação a mortalidade infantil no Brasil, foram registradas 14 mortes a cada mil nascidos.

Na semana passada, reportagem da Agência Brasil informava que “a universalização do saneamento básico no Brasil geraria uma economia anual de R$ 1,4 bilhão em recursos gastos na área de saúde para tratar doenças provenientes da falta de coleta de esgoto e do fornecimento de água sem qualidade à população”.

“Houve avanços, mas não na velocidade que deveriam e poderiam ter ocorrido”, afirma João Sérgio Cordeiro, Diretor da Allevant Educação: “Na década de 1970 foi lançado o Plano Nacional de Saneamento. A década de 1980 foi considerada a década da água. Era para termos alcançado a universalização do saneamento no final da década de 80, já era um plano, e não foi alcançado”.

Cordeiro salienta que existem conhecimentos técnicos e tecnologia disponíveis: “No entanto, a capacitação de profissionais é ainda deficiente em relação a esses temas, e há necessidade de uma intensa formação em gestão”. Afirma ainda que a falta de vontade política é um dos grandes desafios e entraves: “Aquela máxima que diz ‘enterrar tubo não dá voto’ ainda vale no país; e, assim, continuamos a enfrentar os efeitos, as consequências, e não as causas do problema”.

A Confederação Nacional da Indústria apresentou o Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022 que expõe 11 propostas para o saneamento e tal estudo foi divulgado para os presidenciáveis tomarem decisões cabíveis em prol da universalização e melhoria do saneamento no Brasil.