Abastecimento de água: disponibilidade hídrica desigual gera desafios
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Abastecimento de água: disponibilidade hídrica desigual gera desafios

Em um país com 12 regiões hidrográficas, tão difícil quanto gerenciar a escassez, é gerenciar a abundância, diz especialista.

A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), em razão do Fórum Mundial da Água, produziu e publicou o especial “Vidas secas no país das águas”, que apresenta e discute um dos paradoxos nacionais: o fato de 12% da disponibilidade de água doce do planeta estar em território brasileiro e, mesmo assim, sofrermos com secas, crises hídricas e problemas com o abastecimento de água.

Compreender o paradoxo, no entanto, não é tão difícil: num país de dimensões continentais, a abundância de água está distribuída de forma desigual pelo nosso território: “Enquanto a Região Norte concentra aproximadamente 80% da água disponível, regiões próximas ao Oceano Atlântico possuem menos de 3% dos recursos hídricos do país”, diz o especial da EBC. E é nesse território próximo ao Atlântico onde se concentra a maior parte da população do Brasil.

Tal cenário ajuda a criar uma falsa sensação de abundância de recursos hídricos e facilidade no abastecimento de água, que “é reforçada pela presença de três das bacias hidrográficas que contêm o maior volume de água doce do mundo – Amazonas, São Francisco e Paraná”. E é a distribuição demográfica desigual que revela a falsidade daquela sensação: somente na bacia do Paraná, por exemplo, estão concentradas 32% da população do país.

“Nós temos uma questão de escala, somos um país continental, com a maior disponibilidade hídrica. No entanto, descendo as escalas de região, estado e microbacias temos um contraste entre a disponibilidade e as demandas”, reforça o coordenador de Hidráulica e Irrigação da Unesp, o engenheiro Fernando Braz Tangerino Hernandez.

Jefferson Nascimento de Oliveira, professor na área de recursos hídricos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), avalia: “Em um país com 12 regiões hidrográficas, tão difícil quanto gerenciar a escassez, é gerenciar a abundância”.

Crise hídrica e abastecimento de água: problemas de gestão

Podemos concluir que, mais uma vez, o termo chave é “gestão” (confira aqui outras vezes que falamos sobre isso): o problema existe, é sério, e exige ações/soluções que deem resultados concretos. A seriedade desse cenário foi exposta em palestra no Fórum Mundial da Água dada pelo presidente da Hungria, János Áder, que alertou: São Paulo é uma das cidades do mundo candidatas a um “colapso hídrico”, como o que ocorre no momento na Cidade do Cabo (África do Sul). Isto no caso de as medidas necessárias não serem devidamente implementadas: “Se nada for feito, a cidade do Cabo será a primeira a não ter água nas torneiras. Qual será a segunda? Jacarta, Cidade do México, São Paulo?”, questionou. Não à toa, um dos tópicos elaborados pelo especial da EBC ter sido, justamente, “Soluções sustentáveis para o uso da água”.

Nessa parte do especial, a reportagem começa por dizer: “Dados da Agência Nacional das Águas (ANA) mostram que a demanda por uso de água no Brasil deve aumentar em 30% até 2030. Para que o país não passe por crises hídricas no futuro, pesquisadores, empresas e órgãos públicos buscam soluções para evitar o desperdício. Aproveitamento da água da chuva, reuso, construções sustentáveis, dessalinização e despoluição são algumas delas”.

 

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Fonte:
• Ebc.com.br/especiais-agua/