Água com agrotóxicos é realidade em 25% das cidades brasileiras
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Água com agrotóxicos é realidade em 25% das cidades brasileiras

1.396 municípios detectaram em suas águas todos os 27 agrotóxicos cujo teste é obrigado por lei.

No último dia 15 de abril, a Repórter Brasil, a Agência Pública e a organização suíça Public Eye, usando dados do Ministério da Saúde, divulgaram uma investigação conjunta que indicou dados alarmantes relacionados à qualidade da água de nossas cidades: entre 2014 e 2017, empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram em suas águas todos os 27 agrotóxicos cujo teste é obrigado por lei.

Dentre esses municípios, estão os mais densamente povoados, como as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas, cuja contaminação foi múltipla.

Resultado alarmante

Dentre os 27 pesticidas, “16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas”, afirma reportagem do site “Por trás do alimento”.

A pesquisa evidencia questões essenciais relacionadas à qualidade das nossas águas e, consequentemente, à saúde pública (veja também como o esgoto mal tratado têm prejudicado nossas águas subterrâneas):

1) Falta de informação

Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.931 não realizaram testes na sua água entre 2014 e 2017.

2) Grau de contaminação por agrotóxicos aumentou com o tempo

Em quatro anos de pesquisas, o grau de contaminação, ao invés de diminuir, vem aumentando: em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Este número subiu para 84% em 2015, foi para 88% em 2016 e chegou a 92% em 2017.

3) Limites legais bem generosos

Embora o Brasil tenha limites legais (considerados “generosos”) para medir a quantidade aceitável de cada um dos agrotóxicos, não há um limite regulado com relação à mistura. Consequentemente, cria-se a seguinte situação: são encontrados 27 tipos de agrotóxicos numa amostra de água, mas se os limites de cada um deles estiver abaixo do permitido, a água é considerada potável.

Na União Europeia é permitido um máximo de 0,5 microgramas em cada litro de água, somando todos os agrotóxicos encontrados. “No Brasil, há apenas limites individuais. Assim, somando todos os limites permitidos para cada um dos agrotóxicos monitorados, a mistura de substâncias na nossa água pode chegar a 1.353 microgramas por litro sem soar nenhum alarme. O valor equivale a 2.706 vezes o limite europeu”, explica a reportagem.

4) Adoção de diferentes parâmetros

Do total de 27 pesticidas na água dos brasileiros, 21 estão proibidos na União Europeia devido aos riscos que oferecem à saúde e ao meio ambiente.

5) Estado de São Paulo é o recordista em águas contaminadas

Mais de 500 cidades apresentaram índices de contaminação.

6) Métodos defasados

Os métodos de tratamento de água convencionais não são capazes de remover todos os agrotóxicos da água.

João Sérgio Cordeiro, diretor da Allevant Educação, faz referência à Portaria 2914 de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, na Seção III do Cap. III (As competências do Município), e na Seção V (As prerrogativas Dos Laboratórios de Controle Vigilância), destacando os seguintes aspectos:

“Algumas questões devem ser levadas em conta nessas circunstâncias:

  1. Os serviços de água dos municípios possuem capacitação para elaborar, controlar e entender os parâmetros descritos na reportagem?
  2. Os laboratórios têm controle sobre a proteção dos mananciais (água bruta) e das tecnologias utilizadas na remoção das partículas de defensivos agrícolas?
  3. A reportagem não leva em conta outras nanopartículas decorrentes da disposição de fármacos (remédios) utilizados pela população.”

 

Para Cordeiro, esses dados e os questionamentos que eles sugerem revelam o enorme desafio que deve ser empreendido em busca de uma capacitação técnica e conceitual adequada para os profissionais dessa área.

 

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